quinta-feira, 17 de setembro de 2009

QUEM NUNCA SEGUROU O TCHAN QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA!

Ela não matou, não roubou, não traficou, mas dançou o “Todo enfiado” e perdeu o seu emprego. A professora de ensino fundamental, Jaqueline Carvalho, foi demitida após vídeo em que aparece dançando eroticamente em casa de show de Salvador parar na internet. Mas, atire a primeira pedra aquele que nunca segurou o tchan! Pedras foram lançadas. Muitas delas, julgamentos daqueles que podem não ter dançado o “sucesso do momento”, mas que, possivelmente, já “ralaram a tcheca no chão” e “esfregaram a xana no asfalto”, por sorte sem serem filmados.

Pois bem. Outras mulheres também dançaram o “Todo enfiado”. Quem são elas? O que fazem da vida? Perderam também os seus empregos? Por que não apareceram na mídia? E por que todas elas dançam dessa maneira? E o que nós temos com isso?

Como diz Erving Goffman, sociólogo e escritor canadense, ninguém age em total conformidade com as normas de comportamento socialmente aceitas. Ninguém. Por isso, acho que não devemos julgar alguém apenas por um único ato que se tenha cometido. Não quero dizer que “sim, devemos subir no palco e mostrar nossas calcinhas em danças eróticas sem nos preocuparmos com a conduta esperada”. Longe disso. Cada um tem o direito de escolher o que deseja fazer, tem liberdade de agir como quiser, se divertir da maneira que mais lhe agrada, mas deve tomar cuidado com as suas escolhas, sim. Pois, toda e qualquer sociedade espera determinado comportamento dos indivíduos relativo às posições que ocupam socialmente, e sempre que não nos comportamos da maneira esperada, mesmo que essa atitude não desrespeite necessariamente à vida de ninguém, e mesmo que os outros pratiquem atos semelhantes, podemos sofrer sanções, como perder o emprego.

Nossa vida pessoal, de fato, não diz respeito aos outros. Entretanto, comportamentos adotados por nós em determinadas situações, mesmo que fora do ambiente de trabalho, podem influenciar ou desencadear conflitos na esfera profissional, pois, por mais que tentemos separar, existe uma conexão entre as dimensões individual, social e profissional. Então, por melhor profissional que você seja, não se espante se sua imagem protagonizando alguma situação desconcertante ou inusitada for parar na internet, e você for demitido. Afinal, a sociedade não esperava isso de você.

Talvez se Jaqueline tivesse outra profissão, o estardalhaço não fosse tão grande. No entanto, seu papel social de educadora, de fato, está ligado à boa conduta estabelecida pelos padrões sociais, está ligado a uma conduta que possa servir de exemplo para seus alunos. Como afirma Goffman, o desempenho dos papéis sociais tem a ver com o modo como cada indivíduo concebe a sua imagem e a pretende manter. Ao dançar eroticamente em uma casa de show, a professora está adotando um comportamento desviante daquele que a sociedade espera para a posição por ela ocupada.

Coloco-me no lugar dos pais dos alunos da professora Jaqueline e, realmente, não sei se gostaria que a minha filhinha tivesse aula com a professora que dançou o “Todo Enfiado”. Mas, se pensar por outro lado, em talvez quão boa profissional seja ela, passo a me perguntar qual seria o problema de tê-la como professora se ela iria ensinar a ler e escrever, como, aliás, faz a cerca de cinco anos, e não a dançar? E por que os pais ficariam tão preocupados, se eles mesmos incentivam seus filhinhos a fazerem as tais coreografias e sorriem achando bonitinho?

Nenhum crime foi cometido, mas a pró Jaque perdeu seu emprego. Na verdade, a perda do emprego é o mínimo perto do que a divulgação do vídeo lhe custou. Além de ter a vida profissional afetada, ela teve também sua vida social prejudicada, pois, sua imagem foi bastante explorada pela mídia e estará sempre ligada à Música, aos celulares e câmeras filmadoras, ao erotismo das letras de pagode, esquecido durante todo esse momento pelas pessoas, interessadas em apenas execrar a professora.

Calma! Não estou agora culpando as músicas de pagode por fazerem mulheres dançarem eroticamente e perderem seus empregos. Não. Mas não posso deixar de mencionar o erotismo contido nelas, as ambigüidades e os trocadilhos, que, de certa forma, influenciam o surgimento de coreografias sensuais e eróticas. Vale lembrar que pessoas de diferentes classes sociais, idades e profissões dançam todas essas coreografias, se insinuam quando estão dançando e, às vezes, também fogem do que a sociedade espera delas. Como já disse, por sorte ainda não foram filmadas.

Diante do episódio da professora Jaqueline fica clara a necessidade de preservar nossa imagem e evitar determinados comportamentos para não afetar outros setores de nossas vidas. A sociedade praticamente nos exige isso e, como pudemos constatar, um único passo em falso pode abalar todas as estruturas da nossa vida. Mas, por favor, não execremos a professora do “Todo Enfiado”, agora tão deslumbrada com seus 15 minutos de fama, e não a julguemos como má profissional ou má pessoa a partir de um única ação. Afinal, na nossa terra querida, quem nunca segurou o tchan, que atire a primeira pedra!

2 comentários:

Ganah disse...

Pois é Ana, concordo com você. Vimemos numa sociedade hipócrita e falsa moralista. Não sou melhor nem pior do que ninguém e não pretendo dar lição de bom comportamento aqui. No final das contas, que se deu MUITO BEM foi ela, pois está aparecendo em todos os veículos do país,já virou dançarina da banda e provavelmente, ganhará um cachê polpudíssimo, já que está recebendo propostas para posar nua( e que com certeza irá posar). Pais, ao dizer que esta mulher é uma vagabunda, (entre outros), não esqueçam que suas filhas, até pouco tempo atrás, achavam o máximo botar "a mão no joelho e dar uma abixadinha" e que uma loira, em roups mínimas, era a sensação do momento, reunindo toda a família no domingo, sentada no sofá, vendo ela mostar a sua casa e contar que as suas "mexidinhas" mudaram para sempre a sua vida.

Unknown disse...

ADOREII seu Blog... PARABENS!!!