quarta-feira, 25 de abril de 2007

Dia de Chuva

Era um fim de tarde chuvoso, o céu estava escuro e o vento forte. Trovões e relâmpagos contribuíam na composição de uma atmosfera sombria e por que não, assustadora. A Rua das Flores estava deserta, nem mesmo a padaria do Seu Bigode continuava aberta. As pessoas do bairro se recolheram mais cedo; em dias de chuva como aquele temiam que o mal pudesse se repetir. Do Beco do Gato saiu um Homem. Andava a passos largos, com um ar desconfiado em uma atitude bastante suspeita. Ele usava calça jeans e uma blusa de frio surrada. Era alto e forte.
Mariana era nova no bairro. Seus cabelos eram castanhos claros, tinha olhos cor de mel e um sorriso encantador. Sua beleza angelical chamava atenção por onde passava. Naquele dia, mesmo chovendo muito, precisou sair com urgência. A chuva estava ainda mais intensa e ela sentia frio enquanto caminhava depressa pela rua. Lembrou-se da história que Lúcia, uma amiga, havia contado. "Há aproximadamente um ano atrás, ocorreram sucessivos roubos seguidos de morte aqui no bairro. O criminoso se aproveitava de dias de chuva nos quais a rua fica deserta e abordava suas vítimas. A polícia esteve perto de capturar o culpado, mas ele fugiu".
Mariana ia sendo tomada por pavor e desespero à medida em que recordava o relato da amiga.
Continuou andando até que percebeu que estava sendo seguida. Acelerou os passos. O Homem também. Começou a correr. O Homem também. Enquanto corria pensava que ali seria seus últimos minutos de vida. Pensou em gritar, mas quem ouviria? Não conseguia pensar em mais nada. O Homem se aproximava cada vez mais... A chuva que caía agora era também a que brotava de seus olhos, cheia de angústia, relâmpagos e trovões. O ponto de ônibus estava perto, mas também não tinha ninguém. Iria morrer ali, tinha certeza. Corria. Um ônibus apontou, mas não era o seu. O que faria? Era melhor pegá-lo. Mas e se não desse tempo de chegar e perdesse o transporte? O Homem começou a correr ainda mais, devia ser para impedí-la de tomar a condução. Seu coração então disparou. Não daria tempo, ele já estava praticamente do seu lado. Estava do seu lado! Aliás, não estava do seu lado como perguntou:
- Vai pegar esse ônibus também?

terça-feira, 24 de abril de 2007

A Borboleta

Naquele dia, eu levantei da cama, olhei pela janela, senti o vento e a luz do sol. Depois fui até o espelho, ele era grande e dava para ver o corpo inteiro, entretanto eu não via nada, já não sabia ao certo quem era nem quem queria, de fato, ser. Demorei um pouco admirando aquela figura desconhecida e então continuei a fazer aquilo que devia ser feito. Tomei banho e vesti a roupa quase que automaticamente sem consciência exata do que fazia. Não consegui tomar café-da-manhã, estava muito cheia de pensamentos para poder comer. Tudo se fundia dentro de mim e todas as palavras ásperas e duras ditas por ele assim como aquela cena tão triste se repetiam insistentemente. Naquele dia, eu levantei da cama, porém continuei dormindo. Decidi adormecer para o mundo, pelo menos por um tempo, até que tudo dentro do meu próprio mundo estivesse resolvido.
A minha vida havia sido bem diferente até um pouco antes de conhecê-lo. Quando ele surgiu, os dias passaram a ser mais completos, as noites mais quentes, as coisas faziam mais sentido. O sexo se transformou em fazer amor, amor de verdade, e era tanto amor que até doía e eu temia que tudo terminasse quando ele soubesse. Eu não queria perdê-lo, ele tornara-se para mim sinônimo da minha felicidade. Ele também me amava muito, disso ninguém pode duvidar, mas eu sentia que esse amor podia acabar assim que lhe contasse a verdade e, por isso, certa ou errada, escondi-lhe.
Passado algum tempo, em uma noite, antes de dormir, fiquei pensando por horas seguidas, e sentindo-me sufocada com aquele segredo, cansada de mentir, decidi. Aquela decisão mudaria tudo. Acordei na madrugada, fui até a sala e fiquei observando durante alguns minutos a Lua e as estrelas. Senti um arrepio percorrer todo o meu corpo, o medo de novamente perder alguém que eu amava invadiu meu coração. Lembrei toda a minha vida até aquele momento. A perda dos meus pais, a solidão das ruas. Agora estava ali em um apartamento grande e bem decorado, em um bairro nobre da cidade, nem parecia que um dia havia passado por todas as necessidades que passei. Arrependia-me amargamente da maneira como tudo aquilo fora conquistado, pena que não podia mais apagar o que tinha passado. Mas já fazia um tempo que eu estava fazendo as coisas todas diferentes, pensando diferente, eu estava mudando, e não mudei por causa dele, mudei porque comecei a perceber que escolhera o caminho errado, no qual me deixei iludir e inebriar por um mundo de esplendor que não conhecia. Desde o momento que me enxerguei cercada de tudo que jamais sequer sonhei um dia poder ter, mas ainda sozinha, é que entendi que de nada adiantava tudo o que tinha feito. Eu tinha casa, carro, roupas caras, freqüentava lugares finos, mas não tinha amor, dignidade nem respeito para comigo mesma. Resolvi mudar tudo. Foi só depois dessa mudança que o conheci. Ele tocou minha essência, minha alma e despertou um sentimento infinito capaz de fazer-me refletir sobre a vida inteira: o antes, o agora e o depois; por isso mesmo não achava mais justo esconder a verdade dele. Se ele me amava o quanto falava, certamente me entenderia. Outro arrepio subiu-me pela espinha, eu não tinha tanta certeza assim. Ele era um homem bastante correto, tinha sim seus defeitos e erros, mas nunca cometera excessos e eu o admirava muito por isso. Era ciumento, um pouco machista e possessivo, recordar essas características fez meu medo crescer. Minha vontade era que o tempo parasse ali. O tempo não parou. O dia amanheceu e apesar do meu temor, a decisão estava tomada.
O momento chegara. Não sabia por onde começar, o que dizer primeiro. Repeti inúmeras vezes o quanto o amava e, entre uma delas, alimentei-me de coragem, vencendo todo o pavor e comecei:
- Querido, existe uma coisa muito importante sobre mim que você não sabe, e penso que já escondi tempo demais.
- O que pode ser de tão importante, meu amor? Pode falar – ele perguntava sem consciência da grande revelação que estaria prestes a escutar.
- Saiba que aconteça o que acontecer eu irei te amar para todo o sempre, porque você fez com que eu tentasse ser o melhor de mim e, principalmente, porque você me fez conseguir. Eu te amo por tudo. Você é a pessoa mais maravilhosa que já conheci...
- Eu também te amo muito, mas não estou entendendo o que você quer dizer.
- Quero dizer que já errei muito, mas que me arrependi de tudo.
Ficamos em silêncio por alguns instantes, as lágrimas começaram a brotar em minha face e sem pensar em mais nada:
- Eu já fui uma prostituta!
As palavras que seguiram penetraram muito além da minha alma. Senti-me a pior de todas as mulheres, a mais errada, a mais suja... Não adiantaram as minhas justificativas e explicações, o que eu contara ia de encontro a todos os princípios dele. Era tanto amor que doía, e imaginar que tudo pudesse acabar era para mim o mesmo que deixar de existir.
Assim, um dia levantei da cama, mas resolvi continuar dormindo. Precisava organizar o meu mundo. Lutaria. Havia descoberto uma nova forma de ver a vida e de vivê-la. Percebi o quanto vivi num vazio, o mesmo em que as pessoas continuam vivendo, cheio de imbecilidades, de preconceitos e ignorância, no qual se contentam com tão pouco e acabam fazendo da vida quase nada. Eu não queria mais isso. Já nem sabia por quanto tempo havia dormido quando tive certeza de que era hora de acordar. Ao despertar, o quarto era o mesmo, a sala e o banheiro eram os mesmos, a vida podia até ser a mesma, mas eu não. Agora não importava mais o final da tal história.

Mania de Escrever

MANIA: Excentricidade, extravagância, esquisitice. Gosto exagerado ou imoderado por alguma coisa. Idéia fixa doentia, obsessão. Síndrome mental caracterizada por excitação psíquica, hiperatividade, insônia, e, em certos casos, agitação motora em grau variável, transformando-se em quadro psiquiátrico como uma das duas fases alternativas da psicose maníaco-depressiva que é uma psicopatia que se manifesta por acessos, que se alternam, de excitação psíquica e de depressão psíquica.
Quanto risco estou correndo!
AH, ESSA MINHA MANIA DE ESCREVER...