quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Saber ler não é saber entender

Nunca o mercado de trabalho esteve tão competitivo. As exigências aumentam junto às rápidas transformações que ocorrem na sociedade, especialmente no âmbito tecnológico. Quem não completou pelo menos a escolaridade básica encontra muita dificuldade na disputa por um emprego.
Visando justamente suprir ciclos de estudos (1º e 2º graus) não concluídos por adolescentes e adultos durante a idade considerada adequada, foi criado o curso supletivo, hoje chamado Educação para Jovens e Adultos (EJA). A referida forma de ensino pode ser ministrada em classes escolares ou através da utilização de rádio, televisão, correspondência e de outros meios de comunicação, em um curto espaço de tempo.
Nas ruas, placas anunciam: 1º e 2º ano em três meses. Certamente um curso de 90 dias não oferece a mesma carga de conteúdo, muito menos a mesma profundidade que se obtém em dois anos, tempo correto para a conclusão das séries mencionadas. Mas não podemos negar que tal alternativa é de fundamental importância para a maioria das pessoas que a procuram, geralmente desempregados e trabalhadores sem escolaridade, cujos empregos precisam assegurar.
Existem aqueles, entretanto, que se aproveitam dos cursos supletivos para concluírem rapidamente os estudos e, ficarem livres dos conteúdos e livros que pouco valorizam. São esses que ajudam a engordar os índices do analfabetismo funcional. Analfabeto funcional é aquele que mesmo tendo aprendido a decodificar a escrita, não desenvolve a habilidade de interpretação de textos. Segundo pesquisa recente do Instituto Paulo Montenegro, cerca de 75% da população não é alfabetizada plenamente. Isso se deve, entre outras coisas, à baixa qualidade do ensino.
Os processos de aceleração da aprendizagem apresentam defasagem no conteúdo por conta do tempo reduzido e, consequentemente, menor qualidade. O conteúdo é posto em segundo plano, tanto faz absorvê-lo ou não. Grande parcela dos alunos está interessada apenas em obter um certificado de conclusão das séries. Por isso mesmo, acabam saindo da escola com a falsa idéia de que aprenderam, quando na verdade, não são capazes sequer de falar sobre algo que acabaram de ler.
Mesmo com os bons propósitos de oferecer às pessoas o regresso à escola em qualquer idade em que esteja, acelerar de forma demasiada o ensino torna-se uma medida paliativa que tenta diminuir e esconder índices educacionais baixos, mas que não soluciona, de fato, os grandes problemas da educação brasileira.